O título pode ser o começo ou o fim. Há vários
tipos, que variam desde o mais nobre: o título de eleitor, até o mais
humilhante: o título protestado. Nestes
dois casos título é sinônimo de arma. Tudo depende de como o portador vai
usá-la.
Há títulos sem muita significação, que não passam
de rótulos momentâneos, como Miss Brotinho, Rei do Gado, Barão da Maconha. O
tempo se encarrega de apagar e substituir os personagens dessa história. Significativos
são os títulos de conhecimento, que fazem parte do grupo dos nobres, como
Bacharel, Mestre, Especialista e Doutor. No grupo dos humilhantes estão os depreciativos,
como Musa da Beleza Interior, Campeão de Nada, Rainha da Gafe, Asno Rei. Está
claro que o povo brasileiro gosta muito de títulos – resquício dos tempos
coloniais e imperiais. O Rei do Futebol, o Rei da Música e a Rainha dos
Baixinhos, ao que parece, já entraram para a história do Brasil, ao lado do Rei
Dom João VI. Mas, nem sempre o detentor do título é merecedor da honra ou
zombaria. Existe muito rei sem coroa mais digno de um título do que reis de
monarquias verdadeiras. Conheço muitos Doutores que sequer iniciaram o
bacharelado. Também, diversos títulos pejorativos são atribuídos com o único
intuito de denegrir algum inocente e beneficiar seus desafetos.
O título com o qual estou mais familiarizada atualmente
é o título literário. Assim como tantos outros, pode promover ou destruir seu detentor.
Ele introduz o leitor no assunto. Se não for interessante e não fustigar sua
curiosidade, pode espantá-lo. Se, ao contrário, for um bom título, vai instigar
o leitor, levando-o a conferir a afirmativa ou topar o desafio. O mesmo não
ocorre com outros tipos de arte. Ao chegar numa galeria, deparamo-nos
imediatamente com a obra aberta, exposta aos nossos olhos. Amamos, odiamos ou
ficamos indiferentes, apesar do título – que em muitos casos passa
despercebido. A obra nos invade sem prévio aviso.
Para muitos artistas escrever, pintar, esculpir e
moldar são atos comparáveis à gestação, com todos os cuidados, revisões e
paciência que a situação merece. Até que chega a hora do parto, quando a obra é
entregue ao mundo, para que seja apreciada, ganhe espaço e tome vida própria. Seguindo
por esta linha, escolher título para uma obra assemelha-se a escolher nome para
um filho. Alguns pais precisam esperar o filho nascer para ver que cara terá. Outros,
estão longe de terem filhos, mas já sabem que nomes vão lhes dar. Com o texto
acontece coisa parecida. Muitas vezes escolhemos o título baseados na primeira ideia,
mas ao correr das linhas a história vai tomando outra forma, perdendo a
vinculação com o título original, o que poderá causar frustração no leitor.
Na verdade, título e obra vão sendo concebidos
juntos, ligados por um cordão, onde um alimenta o outro e garante a verossimilhança
entre ambos. E, como a placenta, que precisa ser expelida para garantir a saúde
da mãe, bons títulos, nascidos junto com as obras, podem dar maior sobrevida ao
autor.
1°
lugar na categoria Crônica, Concurso Nacional de Literatura Jorge
Ribeiro, realizado em 2009, primeira edição, em Cachoeirinha, RS.