Uma amiga,
psicoterapeuta, solicitou que eu revisasse sua dissertação de mestrado, cujo
tema é casamentos longos. A pesquisa foi
realizada em dois momentos: primeiro foram ouvidas as pacientes no consultório,
e, depois, estagiárias visitaram diversos estabelecimentos frequentados por
mulheres, tais como academias, estéticas, shoppings, saída de escolas e
happyhours.
Para o
trabalho, foram considerados longos os casamentos com, pelo menos, 18 anos de
convivência. Segundo dados da pesquisa, as queixas femininas são recorrentes:
primeiro que os maridos não querem mais saber de romance (ou sexo mesmo). Em
segundo lugar, que eles bebem além da conta. Perderam a noção da hora de
começar e de parar. Some-se a isso o fato de não saírem mais da frente da
televisão e o desleixo com a aparência e a higiene pessoal, o que causa
constrangimento nas mulheres. Em resumo, elas se queixam de não terem mais
homem em casa.
Essa
pesquisa é visivelmente tendenciosa, pois
só contabiliza as opiniões femininas. Mas, a autora diz que é muito difícil
ouvir os homens, porque suas respostas são sempre vagas ou monossilábicas; eles
não gostam que mexam em sua zona de conforto. É provável que após a publicação
da dissertação, os maridos resolvam se manifestar. Ela aguarda ansiosamente,
pois assim poderá obter material suficiente para pensar no doutorado.
Com base na
pesquisa, tirei minhas próprias conclusões e elenquei aqui os cinco protótipos
deste triste quadro doméstico:
Marido 1 – O molenga - Chega do trabalho já com bafo de
pinga. Mija de porta aberta. Belisca alguma coisa na cozinha e abre a primeira
cerveja. Se acomoda no sofá da sala. A cena é clássica: copo em uma mão,
controle remoto em outra, pés em cima da mesinha de centro. Na tela, noticiário
ou futebol. Quando não apaga no sofá mesmo, vai para a cama tarde. Encontra a
mulher perfumada e quer chamego. Dá um bafo na orelha dela e faz uma tentativa
de vida sexual, mas dorme antes que o membro consiga endurecer.
Marido 2 – O que dá duro - Reina e bufa a semana inteira.
Reclama do trabalho, do chefe, dos subalternos, do salário e do trânsito. Culpa
o governo, o vizinho, o pai e a mãe. Atormenta a mulher e os filhos. Quando
quer sexo, a mulher dá logo, para se livrar do encosto. Dorme e acorda de mau
humor. Quando chega o fim de semana bebe todas e vomita no tapete da cozinha.
Afinal, ele merece.
Marido 3 – O estressado - Vive para o trabalho. Trabalha de
dia, trabalha de noite. Fim de semana está alerta. Viaja muito. Sempre cansado.
Pouco tempo em casa. Aprecia um bom vinho e uma boa mesa. Mas, parece que o
único prazer nos últimos anos é o da boa mesa. Sexo, nem pensar. Prefere um
programa de debates na televisão a cabo do que trepar com a patroa. Ela que se
resolva sozinha.
Marido 4 – O irmãozinho - Depois que os filhos saíram de casa
mudou-se para o quarto ao lado. Adora uma série no Netflix. Assiste sozinho na
sala e solta muitos gases. Fuma e bebe regularmente. Já perdeu vários dentes. É
um arremedo do homem de outrora. A patroa sai todas as noites. Shopping,
cinema, e, agora, até uma oficina literária. Não se importa. Desde que não
encha o saco dele, está tudo bem.
Marido 5 – O que se
acha - Este é um pouco mais jovem. Ainda sai com a família. Até aluga casa de
veraneio no litoral. A cena da ida para a praia é clássica: o homem, - umbigão
espiando entre o cós da bermuda e a barra da regata - caminha na frente,
arrastando as havaianas novas na areia. Puxa o carrinho com as cadeiras e o
guardassol. E, no ombro, leva o cooler com cerveja gelada. Ela, uns passos
atrás, - óculos, chapéu e canga da Bahia - leva a bolsa de praia e o mate. Os
filhos adolescentes, ou dormem ou já estão na orla com amigos. O diálogo,
quando existe, é seco. “Onde eu boto a porra do guardassol?” “Enfia onde tu
preferir, querido.”