Apesar de termos chegado ao segundo milênio, no Brasil, ainda vivemos
sob o caráter antiquado do preconceito. Negros, mulheres, indígenas,
deficientes, e, por óbvio, pobres em geral sofrem toda a sorte de humilhação,
por meio de atos discriminatórios. Pobres são maioria no Brasil, desde que ele
foi descoberto. É cada vez maior o número de mulheres chefes de família,
inseridas no mercado de trabalho, sujeitas a salários inferiores e jornada
dupla. É visível o aumento do número de deficientes, resultado de um trânsito
violento, insegurança pública e impunidade. E os indígenas, estes sim pertencem
a uma minoria cada vez mais esmagada pelo preconceito da cultura branca.
São alarmantes os dados que mostram a relação da nossa população negra
com a pobreza e a violência, assim como a situação de racismo disfarçado em que
vive grande parte da sociedade, incluindo os governos. As estatísticas mostram
que negros (incluindo pardos) já compõem a maior parte da sociedade brasileira.
Mostram também que os negros ocupam menos cargos importantes e recebem salários
menores que os brancos, com escassas oportunidades de evolução intelectual e
econômica.
Enquanto governo e sociedade continuarem aliviando suas culpas com medidas
paliativas e protecionistas em relação aos excluídos, tudo será como antes. É
preciso agir com realismo e coragem, criando uma verdadeira política de
inclusão social do pobre, seja ele branco, negro, ou índio, propiciando acesso
à boa alimentação, saúde, educação, emprego, assistência social e psicológica
desde a gestação. A desigualdade existe muito mais pela condição de
miserabilidade do que pela raça. Oportunidades iguais significam equilíbrio na
base. Um negro saudável, bem nutrido e bem instruído tem muito mais condições
de enfrentar e combater qualquer preconceito.
Criar vagas obrigatórias em empresas ou universidades públicas, para
pessoas negras, sem que tenham obtido mérito para isso, não passa de
retrocesso. Isso se assemelha a fazê-los entrar pela porta dos fundos, como foi
comum em épocas passadas, deixando-os expostos a outro tipo de discriminação. É
mister qualificá-los, para que possam estar em igualdade de condições e
disputarem todos os cargos a que têm direito. Mas, para isso, é preciso elevar
o número de vagas e, principalmente, o nível do ensino público no país. Criar postos
de trabalho para os milhares de pais desempregados de todas as raças. Dar melhores
condições de vida aos negros pobres, desde o nascimento, não apenas depois de
crescidos na dificuldade, prejudicados pela subnutrição e com orgulho ferido. Inserir o negro na sociedade branca é tarefa
para começar cedo, na raiz do preconceito, eliminando grande parte das dificuldades
que fazem a diferença. E, neste aspecto, já estamos com mais de 120 anos de
atraso.
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