Há casos em que a infidelidade se faz necessária.
Passei a refletir mais sobre isso depois de ler o livro de Ali Ayaan Hirsi:
Infiel – A história de uma mulher que desafiou o Islã. Ayaan ficou mundialmente
conhecida por sua luta contra a opressão e a violência que recaem sobre as
mulheres nas sociedades muçulmanas. Foi eleita pela revista Time como uma das
cem pessoas mais influentes do mundo e hoje vive nos Estados Unidos.
O
livro de aproximadamente 500 páginas, da Cia. Das Letras, foi lançado em 2006.
Embora pareça uma história medieval, conta a vida da autora, que nasceu em
1969, na Somália. Ou seja, passa-se em pleno final do século XX, adentrando no
novo século e no novo milênio. Ela conta os horrores por que passou na
infância, adolescência e juventude, cheia de privações, surras, guerras civis e
exílios. O mais desconcertante para nós ocidentais é a clirectomia sofrida aos
cinco anos pelas mãos da avó. Tudo em nome de Alá.
Obrigada a frequentar escolas em muitas línguas
diferentes e conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia à
mistura cultural do Quênia, Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico
como forma de manter sua identidade. Mas, diante da perspectiva de ser obrigada
a se casar com um desconhecido escolhido por seu pai - conforme uma tradição
que ela questionava -, acabou fugindo e se exilando na Holanda. Lá viveu durante treze anos, onde
tomou conhecimento de outra cultura e outras religiões. Aprendeu sobre
democracia e direitos individuais do ser humano. Começou a entender que seu
sofrimento era apenas uma questão dogmática e que a fé em Alá não precisa, de
modo algum, ser uma jornada de espancamentos, submissão feminina e dor. Eleita
Deputada, trabalhou pelos direitos dos imigrantes e, por sua ousada
infidelidade ao Alcorão na luta contra as desigualdades e a crueldade do
islamismo, foi perseguida e sofreu inúmeras ameaças de morte.
Com
o amigo e cineasta Theo Van Gogh realizou um vídeo chamado “Submissão” sobre a
opressão da mulher muçulmana. Por este curta-metragem, Theo foi assassinado e
ela, ameaçada de ser a próxima vítima, teve que viver durante mais de dois
meses escondida e escoltada por órgãos de segurança do estado, numa
peregrinação por vários estados Americanos.
A
vida desta corajosa mulher muçulmana, privilegiada em relação a tantas outras
que sucumbem nas armadilhas do fanatismo religioso, é exemplo para todas nós. É
inconcebível que mulheres ocidentais, vivendo em uma sociedade cheia de leis
que as protegem, se deixem usar por homens que as espancam e humilham, em nome
de uma desnecessária fidelidade ancestral e anacrônica. Ser fiel a si mesmo,
àquilo que se acredita importante e verdadeiro, é fundamental na construção de
uma sociedade melhor e mais justa.
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