quarta-feira, 30 de maio de 2012

O INFIEL DA BALANÇA


 Há casos em que a infidelidade se faz necessária. Passei a refletir mais sobre isso depois de ler o livro de Ali Ayaan Hirsi: Infiel – A história de uma mulher que desafiou o Islã. Ayaan ficou mundialmente conhecida por sua luta contra a opressão e a violência que recaem sobre as mulheres nas sociedades muçulmanas. Foi eleita pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo e hoje vive nos Estados Unidos.
O livro de aproximadamente 500 páginas, da Cia. Das Letras, foi lançado em 2006. Embora pareça uma história medieval, conta a vida da autora, que nasceu em 1969, na Somália. Ou seja, passa-se em pleno final do século XX, adentrando no novo século e no novo milênio. Ela conta os horrores por que passou na infância, adolescência e juventude, cheia de privações, surras, guerras civis e exílios. O mais desconcertante para nós ocidentais é a clirectomia sofrida aos cinco anos pelas mãos da avó. Tudo em nome de Alá.
Obrigada a frequentar escolas em muitas línguas diferentes e conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia à mistura cultural do Quênia, Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade. Mas, diante da perspectiva de ser obrigada a se casar com um desconhecido escolhido por seu pai - conforme uma tradição que ela questionava -, acabou fugindo e se exilando na Holanda. Lá viveu durante treze anos, onde tomou conhecimento de outra cultura e outras religiões. Aprendeu sobre democracia e direitos individuais do ser humano. Começou a entender que seu sofrimento era apenas uma questão dogmática e que a fé em Alá não precisa, de modo algum, ser uma jornada de espancamentos, submissão feminina e dor. Eleita Deputada, trabalhou pelos direitos dos imigrantes e, por sua ousada infidelidade ao Alcorão na luta contra as desigualdades e a crueldade do islamismo, foi perseguida e sofreu inúmeras ameaças de morte.
Com o amigo e cineasta Theo Van Gogh realizou um vídeo chamado “Submissão” sobre a opressão da mulher muçulmana. Por este curta-metragem, Theo foi assassinado e ela, ameaçada de ser a próxima vítima, teve que viver durante mais de dois meses escondida e escoltada por órgãos de segurança do estado, numa peregrinação por vários estados Americanos.
A vida desta corajosa mulher muçulmana, privilegiada em relação a tantas outras que sucumbem nas armadilhas do fanatismo religioso, é exemplo para todas nós. É inconcebível que mulheres ocidentais, vivendo em uma sociedade cheia de leis que as protegem, se deixem usar por homens que as espancam e humilham, em nome de uma desnecessária fidelidade ancestral e anacrônica. Ser fiel a si mesmo, àquilo que se acredita importante e verdadeiro, é fundamental na construção de uma sociedade melhor e mais justa.


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