Minha
primeira professora era uma mulher sem graça. Magra, discreta, nenhum encanto
para povoar minhas lembranças. Madura como a minha mãe, pronta a repreender, exigir
e educar. Crianças gostam de professoras jovens e cheias de vida. Moças bonitas
que sirvam de espelho às meninas e despertem as primeiras paixões nos garotos.
No imaginário infantil só existem duas possibilidades: Ser jovem, como a
professora Magda, por quem meu irmão nutriu uma paixão tão intensa, que
resultou na escolha do nome do bebê que nossa mãe estava gerando. Ou ser velha,
como as avós, que cobrem as crianças de carinhos, vontades, passeios e
guloseimas fora de hora.
Como eu ingressei na escola já
alfabetizada, tinha pouco interesse pela professora. Novidades para mim eram o
avental branco bem engomado, as meias da mesma cor e os sapatinhos pretos, de
boneca. A pasta, o livro, o caderno, o lápis: isso, sim, me fascinava. Os
colegas e a fila também. Adorava formar fila para entrar na sala. Era por ordem
de altura e eu, por ser a mais baixinha, ocupava o primeiro lugar – na verdade,
disputava com a Elisa. Nunca se soube quem era a menor, então, a cada dia uma
ocupava a primeira posição. Logo, passei a dar mais valor ao status de ser a
primeira na fila, pois, em todas as outras situações escolares, eu era a
última, por causa da letra zê do meu nome. Naquela época, ainda me restava
outra pole position: no boletim.
Sabia tudo e era a primeira da aula. Melhor dizendo: disputava com a Elisa,
alfabetizada em casa também. Mas, não pensem que guardei mágoas da colega, pelo
contrário, ela é a minha melhor lembrança da primeira série. Sentávamos juntas
e, durante um bom tempo, fomos amigas inseparáveis. Há poucos meses, nos
reencontramos, via internet, e avivamos todas essas memórias. Foi muito bom.
Na terceira série, tive uma
professora tão vilã, que, durante um teste, por medo de pedir para ir ao
banheiro, fiz xixi nas calças. Então, tive que esperar todos saírem, para que
não rissem de mim.
Mas, a professora que marcou minha
infância não estava no meu colégio, estava na minha rua. Moema vinha com o
marido, semanalmente, visitar a sogra. Era jovem, bonita e carinhosa. As
crianças enchiam a calçada para vê-la e brincar com ela. Tratava criança como
gente grande. Suas cartinhas apareciam debaixo de nossas portas, cheias de
flores miúdas, borboletas e versinhos numa letra muito caprichada. Acho que todos
nós a amávamos.
Foi durante o ginásio que eu tive a
melhor professora de minha vida. Chamava-se Leila. Era uma senhora doce e terna,
que lecionava Matemática. A minha dificuldade era tanta (eu migrara de um
colégio mais fraco), que quase tive que repetir o ano. Mas, Leila fazia com que
as frações parecessem poemas. E eu queria muito aprender, para não
decepcioná-la. Nessa época descobri a Matemática, e passei até a gostar dela.
Essa professora me ensinou muito mais do que cálculos, me ensinou a raciocinar
e a perseverar.
Além daquela da terceira série,
outras vilãs passaram pelo meu quadro-negro, como as de música, que não
aceitavam minha voz fanhosa e desafinada, atrapalhando as aulas de canto. Ou, as
que me torturavam deliberadamente, chamando pelos meus dois estranhos nomes. A
partir da adolescência, comecei a virar o jogo. Em alguns casos a vilã fui eu.
Mas, disso ainda não posso falar - não, enquanto tiver filho adolescente.
Encerrei com chave de ouro a época
escolar, no que diz respeito aos professores. No último ano do segundo grau,
tive um professor de Inglês que dava o que falar. Cabelo preto e liso, olhos
meio puxados, deixava as meninas mais tontas ainda. Eu já trabalhava, portanto,
estudava à noite. Vivia cansada e não tinha muita vontade de assistir às aulas,
quando aquele morenaço chegou para substituir a professora grávida. Foi meu
maior estímulo para terminar o ano com boas notas e poucas faltas. Pelo menos
em Inglês.
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