O nome que me deram quando nasci, composto
laboriosamente pelo meu pai e aceito com vaidade pela minha mãe, foi um dos
maiores pesos da minha vida. Cresci odiando e rechaçando tal esquisitice.
Perdia toda a graça quando alguém perguntava meu nome, ou quando ele era dito
em público. No colégio, nos primeiros dias do ano letivo, quando as professoras
me chamavam, em voz alta e clara, pelo primeiro e segundo nomes, todos se
voltavam para ver quem era a dona daquela aberração. Acho que elas faziam de
propósito, para me humilhar, visto que nunca houve outra Zulmara na mesma sala,
no mesmo colégio, no mesmo bairro.
Na infância, brincávamos de roda, de estátua, de
passar o anel. Falávamos em código. Usávamos a língua do P. Entre tantas
brincadeiras, a que eu mais gostava era a de trocar de nome. Ou inventávamos
nomes novos, e isso era o máximo, ou usávamos os nomes umas das outras durante
todo um dia ou uma tarde. Eu adorava, porém, quem ficava com o meu nome sempre
queria terminar a brincadeira antes do tempo.
Os adultos complacentes comentavam: que nome estranho
ou que lindo
nome, este último me soava como um deboche. Se eu fosse portadora
de um nome feio ou estranho, vá lá. Mas, eles não se contentaram com um, me
deram dois. Era preciso que uma única filha homenageasse ao mesmo tempo duas
avós? Poderiam ter juntado um avô com uma avó e não ficaria tão estranho: Maria
Augusta. Mas, se juntassem os pares errados, seria igualmente uma catástrofe:
América Zulmira. Por que não homenagearam uma de cada vez? Duas avós, duas
filhas. Perfeito! (A Magda – que lindo nome – ia querer me matar por essa
idéia).
Que sina a minha. Éramos quatro irmãos, três com
nomes simples e bonitos: Claudio, Ronaldo e Magda. E eu? Zulmara Inácia, muito
prazer. Tá bom, já chega! Vocês devem estar achando exagerado este meu
dramalhão. Mas, estou apenas reproduzindo os meus sentimentos de criança e
adolescente. Hoje já sou mocinha e consigo entender que eles não fizeram por
mal. Foi por amor.
Afinal, este nome faz parte da minha história.
Quando a gente não pode com o inimigo tem que se unir a ele. Foi o que fiz, sem
saber. O nome teve papel fundamental na minha formação; contribuiu para me
tornar mais forte do que meu sobrenome exigia. Cresci acreditando que lágrimas
e fricotes combinavam com Alices e Clarissas, nunca com Zulmaras, muito menos
Inácias. Coloquei Zulmaras mesmo, plural, porque, pasmem, existem muitas por
este Brasil afora. Inclusive, faço parte de uma comunidade só de Zulmaras no
Orkut. Já somos 37. E, para minha surpresa, eu sou a única que acha o nome
feio. Todas o acham lindo. A grande maioria também recebeu o nome para
homenagear pais ou avós.
Mas, Zulmara Inácia... Só tem uma.
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