quarta-feira, 30 de maio de 2012

MEU NOME: MINHA CRUZ E MINHA REDENÇÃO


O nome que me deram quando nasci, composto laboriosamente pelo meu pai e aceito com vaidade pela minha mãe, foi um dos maiores pesos da minha vida. Cresci odiando e rechaçando tal esquisitice. Perdia toda a graça quando alguém perguntava meu nome, ou quando ele era dito em público. No colégio, nos primeiros dias do ano letivo, quando as professoras me chamavam, em voz alta e clara, pelo primeiro e segundo nomes, todos se voltavam para ver quem era a dona daquela aberração. Acho que elas faziam de propósito, para me humilhar, visto que nunca houve outra Zulmara na mesma sala, no mesmo colégio, no mesmo bairro.
Na infância, brincávamos de roda, de estátua, de passar o anel. Falávamos em código. Usávamos a língua do P. Entre tantas brincadeiras, a que eu mais gostava era a de trocar de nome. Ou inventávamos nomes novos, e isso era o máximo, ou usávamos os nomes umas das outras durante todo um dia ou uma tarde. Eu adorava, porém, quem ficava com o meu nome sempre queria terminar a brincadeira antes do tempo.
Os adultos complacentes comentavam: que nome estranho ou que lindo nome, este último me soava como um deboche. Se eu fosse portadora de um nome feio ou estranho, vá lá. Mas, eles não se contentaram com um, me deram dois. Era preciso que uma única filha homenageasse ao mesmo tempo duas avós? Poderiam ter juntado um avô com uma avó e não ficaria tão estranho: Maria Augusta. Mas, se juntassem os pares errados, seria igualmente uma catástrofe: América Zulmira. Por que não homenagearam uma de cada vez? Duas avós, duas filhas. Perfeito! (A Magda – que lindo nome – ia querer me matar por essa idéia).
Que sina a minha. Éramos quatro irmãos, três com nomes simples e bonitos: Claudio, Ronaldo e Magda. E eu? Zulmara Inácia, muito prazer. Tá bom, já chega! Vocês devem estar achando exagerado este meu dramalhão. Mas, estou apenas reproduzindo os meus sentimentos de criança e adolescente. Hoje já sou mocinha e consigo entender que eles não fizeram por mal. Foi por amor.
Afinal, este nome faz parte da minha história. Quando a gente não pode com o inimigo tem que se unir a ele. Foi o que fiz, sem saber. O nome teve papel fundamental na minha formação; contribuiu para me tornar mais forte do que meu sobrenome exigia. Cresci acreditando que lágrimas e fricotes combinavam com Alices e Clarissas, nunca com Zulmaras, muito menos Inácias. Coloquei Zulmaras mesmo, plural, porque, pasmem, existem muitas por este Brasil afora. Inclusive, faço parte de uma comunidade só de Zulmaras no Orkut. Já somos 37. E, para minha surpresa, eu sou a única que acha o nome feio. Todas o acham lindo. A grande maioria também recebeu o nome para homenagear pais ou avós.
Mas, Zulmara Inácia... Só tem uma.


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