quarta-feira, 30 de maio de 2012

JOGO


- Larga do meu pé! Não puxa.
- Então, vamos.
- Nunca. Nem morto.
- Não resiste. Não adianta.
- Por que eu?
- Porque tá na tua hora.
- Espera! Vamos negociar.
- Ah, ah! Onde já se viu isto: negociar com a Morte?
- Eu sou acostumado a negociar. Sempre fiz boas alianças.
- Comigo não tem aliança, nem negociação. Tá na hora e pronto!
- Mas conheço tanta história de gente que voltou; foi até o túnel e voltou.
- Não é negociação. É merecimento. Ou engano.
- Quê!? Tá dizendo que a Morte pode errar o chamado?
- Não erra, se engana. Mas sempre se corrige a tempo. Já vocês, por aqui, erram muito e nunca se corrigem.
- Então podes estar enganada. Meu cunhado se parece muito comigo; mora ao lado; fuma muito e vive doente. É ele.
- Não me enganei, não. Aquele ainda tem utilidade por aqui. Vai mais tarde.
- E eu? Por acaso sou inútil?
- Chega! Para de ser cagão. Vou te levar para um lugar agitado e quente...
- Quente? Não. Não quero.
- E por que não? Passaste a vida fugindo do clima frio do sul. Vais encontrar muitos conhecidos lá.
- Ah, é? Amigos?
- Humm... Companheiros, aliados. Entende, né?
- Entendo. Campanha, caixa dois, conchavos. Bons companheiros! Pode até ser divertido.
- Isso! Então, vamos.
- Para! Só mais uma pergunta: como as coisas funcionam por lá?
- Muito quente. Meio esculhambado. E sem conchavos.
- Muita gente?
- É um local de passagem. Estada meio rápida. Lá é tudo fera. E todos querem a mesma coisa. O maior come o menor, até que chega um maior que ele, e assim por diante.
- E depois?
- Volta.
- Para cá?
- Claro. Volta pobre e doente. Já nasce na fila do SUS.  O Velho lá em cima se diverte. É o game preferido Dele: Fucking you now.


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