domingo, 11 de dezembro de 2016

REVERSO

“A palavra complica muito.”
(Antônio Maria)

Foi um encontro carnal.
A emoção tornou desnecessária qualquer palavra.
Nossos olhos brilharam num diálogo de luz.
E os corpos exalaram odores de desejo.
Bebi dos teus lábios na querência de mantê-los calados.
Nossos gemidos desconexos diziam tudo.
Entoavam letras embaralhadas de canções de amor.
Dedilhamos nossos corpos formando letras gregas e arabescos de sedução.
Pernas entrelaçadas nas cruzadas do amor.
A temperatura de nossos corpos era um inflamado discurso em defesa da paixão.
Sensações que dispensavam promessas.

E quantas vezes voltaste com jeito de quero mais!
Meu peito arfava sempre que sim.

Calados e sem qualquer emoção
Teus olhos fugidios desencontrando dos meus.
Teu corpo exalando as tuas dúvidas.
Teus gestos denunciando a tua pressa.

Meus lábios cerrados, grunhidos que falam de dor.
Tua mão tatuada em meu rosto.
O desenlace de tudo
Num discurso amargo e hostil.
Levantas com ímpeto de quem já vai.
Bates a porta com a força de quem dá adeus.
Ao sair, me deixaste no escuro.


Mas ainda brilham em mim faíscas das palavras mal ditas.

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