Sei exatamente o momento em que
decidi matá-la. Não foi quando ela me deixou. Foi quando estávamos no auge da
paixão. No descanso dos múltiplos orgasmos. Aconteceu como num sonho. Uma
visão. Percebi que ela não poderia viver
para dar a outro homem o mesmo prazer que me levava à loucura. Embora, naquela
época, nem passasse pela cabeça dela ser de outro. Mas eu sabia. Conhecia a
vida. Ela estava recém debutando e eu tinha quinze anos a mais. Com o tempo,
ela ficaria experiente e cada vez melhor. Insaciável, talvez. E eu ficaria
velho, sem graça. Ela ia querer novos parceiros, com certeza. Então, chegaria a
hora de matá-la. E por saber que a vida dela seria curta e que caberia a mim a
execução, é que fui me tornando o melhor homem do mundo. O melhor amante, o
melhor amigo, o mais romântico. Eu a enchi de mimos, carinhos, flores, para que
ela demorasse mais a se enjoar de mim e sair em busca do futuro predestinado. Assim
me amaria e me desejaria por mais tempo. Na verdade, tantos mimos e afagos me
aliviavam a consciência. Faziam-me sentir menos culpado por ter que matá-la um
dia.
A vida dela seria curta, mas eu a faria muito feliz.
Ela me levava ao êxtase, como se
fosse a mais potente das drogas, e sem aquilo eu não viveria mais. Quando me
deparei com esse pensamento, fui obrigado a rever minha decisão. Será mesmo que
eu deveria matá-la? Afinal, de que
adiantaria, se o que me motivava era não poder viver sem ela? Melhor o suicídio,
e pronto! Mas ela não teria inteligência, nem maturidade, para entender a
grandeza do meu gesto. Não, eu seria apenas mais um fraco a morrer de amor.
Não. O certo era matá-la, para que, além de mim, ninguém mais experimentasse da
sua droga. E eu? Viveria com a lembrança dela e a certeza de que fora somente
minha.
Algumas mulheres são assim mesmo, grudam
na mente do cara de tal forma, que só matando. De que outro jeito apagaria o
sorriso dela me convidando para a cama? Como eu ia me livrar do seu cheiro de
sexo molhado? Como resfriar meu corpo do corpo dela? Não. Não tinha outro
jeito. Só matando. A morte resolve tudo. Acaba com o sofrimento. Encerra a
questão.
Além disso, ela não saberia contar esta história como de fato aconteceu.
Somente eu sei por que um de nós teve que morrer. Vamos virar personagens de um
romance. Eu mesmo vou escrever esta história. Meu livro vai povoar a imaginação
das pessoas e preencher o vazio da vida delas. Minha história vai servir também
para alertar menininhas recém chegadas ao mundo adulto, do quanto elas são
cruéis com pobres homens enfeitiçados pelos seus olhinhos de promessas. A vida
adulta é de muita responsabilidade. Quando era guri minha mãe me obrigou a ler O
Pequeno Príncipe. Achei meio bobo, mas anotei algumas coisas interessantes.
Outro dia vi no meu caderno: você é
eternamente responsável por aquilo que cativa. Então, eu entendi uma porção
de coisas – realinhei meus pensamentos com os desse cara.
Sei que fiz a coisa certa.
Ela não só me cativou, ela me viciou. Não tinha outro jeito.
Agora, sim. Eternamente responsável.
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