Agi por instinto,
sem ponderar nada. Aquele devasso já tinha sido descartado mil vezes de minha
vida. Mas, quando ele se reaproximou com os olhos mornos e a voz sussurrante não
resisti. Tudo nele cheirava a perigo, a perdição - e eu já me sentia perdida. Fingia que não,
fazia ar de desdém, mas já sabia como tudo iria terminar. O universo era meu
cúmplice nesta loucura. A lua me aliciava implacavelmente.
Tantas vezes risquei
seu nome no meu diário, do mesmo modo que riscava na agenda as tarefas já
cumpridas – encerradas. De nada adiantou. Riscam-se nomes, palavras, tarefas...
Antes de riscar o nome tinha que ter eliminado o sentimento. Nunca consegui
porque não queria de verdade. Não passo de uma libertina, escondida sob um
manto puído de inocência e fragilidade.
Uma vez
desembaraçada de meus próprios preconceitos posso jogar ao chão meu velho
manto. Assim me mostro nua e impura, como deviam ser todas as mulheres, desde
os tempos de Madalena. Se Jesus perdoou a pecadora, por que haveriam os homens
de não perdoar a nós outras? Despidos somos todos iguais: instintivos como
qualquer animal. O que faz dele um devasso e de mim uma pecadora não é nada
mais do que a idéia pré-concebida de que existe certo e errado, prêmio e
castigo. Se conseguirmos nos desvencilhar destes conceitos, perderemos todos a
razão, não sobrando a ninguém o direito de julgar o outro ou a si mesmo. Assim,
receberei dadivosamente o direito à fornicação.
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