quarta-feira, 30 de maio de 2012

SANTA GULA


 Uma das cenas mais representativas do Cristianismo é a Santa Ceia, onde os apóstolos comem e bebem com Cristo pela última vez.  Talvez isto explique porque as festas cristãs mais comemoradas, até mesmo por quem não tem fé alguma, são aquelas onde se come e bebe com fartura. O simbolismo que o alimento tem na mesa origina-se das sociedades antigas, que passavam fome e encontravam na comida e na bebida uma forma de reverenciar a Deus.
Alguém sabe o dia de se homenagear São Miguel Arcanjo – aquele que enfrentou Lúcifer, defendendo a autoridade de Deus? É em 29 de setembro, mas poucos sabem, provavelmente porque a festividade não envolve gastronomia. No entanto, o dia de São Miguel Arcanjo está entre as principais comemorações do Cristianismo, que são seis.
A Páscoa - que ocorre no primeiro domingo depois da lua cheia, a partir de 21 de março (data do equinócio) – é considerada a data máxima cristã, pois comemora a ressurreição de Jesus Cristo. A passagem da morte para a vida eterna. Os principais símbolos são o ovo, que representa a vida, e o coelho, que representa a fertilidade. O chocolate foi introduzido no século XX, com propósitos comerciais, estabelecendo o consumo no mundo inteiro, através de bombons e ovos. Na Sexta-feira Santa, ao invés de jejuar, troca-se a carne vermelha por peixe e se bebe vinho além da conta. No domingo de Páscoa, a fim de recuperar as energias perdidas na quaresma, assa-se uma costela gorda, acompanhada de muita cerveja. E as crianças lambuzam-se de guloseimas.
Depois da Páscoa (50 dias) temos Pentecostes, outra data pouco lembrada no calendário atual. A comemoração tem origem no Antigo Testamento, como uma celebração da colheita, onde o povo oferecia a Deus os primeiros frutos da terra. Já no Novo Testamento perdeu a característica gastronômica, ficando representativa da celebração da efusão do Espírito Santo. Motivo pelo qual, provavelmente, perdeu a importância como festa popular.
Antes da Páscoa (40 dias) temos o Carnaval. Data limite para comer, beber e fazer sexo antes da quaresma – período de jejum e abstinência. A intenção foi levada tão a sério que, atualmente, o Carnaval, de origem cristã, já é considerado uma festa pagã.
Mas, a festa cristã mais gastronômica é, sem dúvida, a festa de São João – Festa Joanina, que terminou por virar festa junina, dando espaço para homenagear mais dois santos populares do mês de junho: São Pedro e Santo Antônio. Junho é a época da colheita do milho, logo as comidas típicas são feitas, em sua maioria, deste cereal. Pamonha, cuscuz, canjica, pipoca e bolo de milho são as estrelas da festa. Mas, também reinam com destaque a cocada, o pé-de-moleque, o pinhão, o quentão e a batata doce. São tantas as gostosuras que enchem os olhos de adultos e crianças nestas ocasiões, que é impossível enumerar todas.
E, por fim, temos o Natal, que, como todos sabem, comemora o nascimento de Jesus. A típica ceia natalina no Brasil inclui, além do peru e do panetone, presunto, chester, pernil de porco, rabanada, bolinho de bacalhau e nozes. Esta ilustra bem tudo o que foi dito. É uma festa que sobrevive bem sem o presépio, sem a missa do galo, sem a lembrança do Cristo. Mas, jamais sem os presentes e a comilança.

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