A televisão é
taxada de alienante e emburrecedora. Há quem se orgulhe de dizer que não
assiste televisão. Porque faz merchandising, transforma pessoas comuns em
celebridades do dia para a noite, vicia, desagrega e tudo o mais. Novelas,
então, costumam ser as vilãs. Ou porque retratam histórias improváveis de
acontecer, ou, pelo contrário, porque são realistas demais. Apresentando temas
nem sempre bem aceitos socialmente, tais como a união entre pessoas do mesmo
sexo, ou a existência de vida após a morte.
Se for
entretenimento em grupo, a tevê pode servir de pretexto para que se traga para
o núcleo familiar a discussão de assuntos polêmicos, apresentados diariamente.
Da mesma forma que acompanhamos a novela das sete, acompanhamos o desenrolar de
uma ocorrência policial, a decisão de um campeonato de futebol, ou o desfecho
de uma prova num reality show. Em todos os casos o que nos move é a
curiosidade.
Na
minha casa, assistimos muito à televisão. Desde noticiários, até novelas e
programas menos nobres. Assistimos todos juntos, e comentamos. Trocamos algumas
alfinetadas, que rendem boa prosa. E muita reflexão. Os acontecimentos,
fictícios ou não, da tevê trazem à baila assuntos que envolvem ética,
comportamento, socialização, direitos e deveres. Que oportunidade melhor teria
eu, como mãe, de testar meus jovens filhos sobre tudo o que lhes venho
ensinando? As situações que se apresentam nas novelas me dão a oportunidade de
reforçar conceitos, sem a entediante prática do sermão. Desta forma, discutimos
livremente sobre drogas, sexo, infidelidade, honestidade, respeito e tantos
outros temas difíceis de conversar com filhos adolescentes. A ficção faz com
que os assuntos sejam tratados com mais leveza. Educar fica mais fácil,
divertido e casual. Eles aprendem como devem se comportar quando vivenciarem
uma situação semelhante. Ou, pelo menos, como a mãe gostaria que se
comportassem.
Não
pretendo tornar-me uma defensora das telenovelas, mas entendo que só se aliena
quem quer. A novela é uma história inventada, mas com fortes nuances da vida
real. Retrata situações que, muitas vezes, estão presentes no dia-a-dia da
maioria de nós. Da mesma forma que uso os fatos reais apresentados no jornal
para discutir questões éticas com meus filhos, aproveito-me também de situações
fictícias, e faço delas minhas aliadas na difícil tarefa de formar cidadãos de
bem.
Toda
e qualquer circunstância de vida pode alienar ou emburrecer. Depende da
capacidade crítica de cada um. Assim como um revés financeiro, uma perda, um
problema pessoal de saúde, enfrentados com coragem e sabedoria, podem nos
fortalecer, também um olhar crítico sobre programas menos nobres, que parecem
não acrescentar nada, pode resultar numa boa oportunidade de diálogo,
fortalecendo as relações familiares e valorizando princípios morais e afetivos.
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