quarta-feira, 30 de maio de 2012

CARA A CARA


 Se a vida é um jogo, a minha é uma partida de futebol empatada, pronta a ser decidida em um único pênalti. Chance única. Estamos aqui, no confronto final, meu inimigo e eu. Frente a frente, em completa desigualdade. Eu, defendendo meu gol; ele, invadindo ameaçadoramente a área. Nada entre nós, além da bola, digo, bala. Sem barreiras. Nenhum subterfúgio. Nem crenças, nem sonhos. Nada mais vai impedir a decisão desse jogo que empata nossas vidas há anos.
Percebo o suor do inimigo escorrendo pela testa. Tento fixar seus olhos, mas ele, propositalmente, os desvia para não demonstrar emoção. Eu, perplexo, paralisado. Inerte e atento ao mesmo tempo. Esperando pela ação que logo virá. Traçando em minha mente inquieta uma estratégia de defesa, que já sei será inútil. Por mais preparado que eu pense estar, a vantagem é toda dele: ele tem a bola no pé, e eu tento evitar o gol. Mas não é jogo; é vida real. Ele tem a arma e eu, o peito. O goleiro vai ao encontro da bola e eu vou fugir da bala, para não perder o jogo da vida. A arquibancada cheia nem respira, à espera do grande lance.
Não conversei, nem tentei dissuadi-lo do confronto enquanto era tempo. Foram muitos lances perdidos. Agora, é inevitável. Estou aqui, cara a cara com ele, acuado na murada do viaduto – a grande goleira. Se eu não conseguir evitar o tento, vou despencar com bola (ou bala) e tudo.
            Minha vida suspensa no cordão do apito do Juiz. Basta um sopro e ele encerra a partida.  

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